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. Pastéis de vento .



Nunca me contentei com nada. De certa forma, a constante vontade de tudo era motivo de orgulho, me tornava especial, inquietante. Até o instante em que que algumas coisas simplesmente não valem a pena. Não por serem pecaminosas nem por pertencerem ao terreno mimado da moralidade. Nem sequer se relacionam com consciência ou motivação menos racional, Nem por serem tristes ou cômicas. Não é isso. Apenas, essas coisas são grandes e atraentes pastéis recheados de vento, "Como vai você?" oferecido em esquinas barulhentas. Não sei quantas vezes errei por achar que esperar era estupidez. Paciência confundida com covardia. Ação era o que importava, e eu sempre seguia, no final, o prêmio pela empreitada. Mesmo não fazendo idéia de sua utilidade. E por isso joguei pessoas no lixo, Traí. Menti. E mesmo assim, agradecida aos céus por ser tão espontânea, passional. Hoje agradeço por ter aprendido que rogar atenção a quem não se importa não vale a pena. Ou pedir amor. Exigir amizade. Tomar porre de pinga ruim. Discutir com ignorantes. Paciência é a maior virtude, agora eu sei. Ainda bem que a tive para perceber que seu lugar é mesmo do outra lado da rua, com pessoas, falando sobre assuntos que em nada me interessam (por mais que eu tenha me esforçado). O Bom senso me devolveu a paz que quase perdi por recear aceitar que minha felicidade está na calma e não na sua cama. Sua infância mal ultrapassada. Seu armário trancado demais. Sua Falta de palavras. O Excesso de ausência. Tudo minou até a minha incrível capacidade de persistir: Não dá pra apostar o futuro numa mesa em que o maior prêmio é um orgasmo e um beijo na testa. Pra mim, você simplesmente não vale a pena.

. Desperdício .

Como já me é de costume, estou vomitando tudo, certas vezes isso me prejudica, caso queira saber como vai meu humor terá suas respostas, sem precisar ao menos cogitar vir me perguntar, mas dane-se, só assim me faço bem, e como faço. Mesmo eu precisando digitar igual uma desesperada, porque os dedos não conseguem, às vezes, acompanhar o raciocínio, e assim algumas frases são perdidas. O que é uma pena, porque eu odeio desperdício. Pior ainda quando as pessoas me desperdiçam. Desperdiçam todo o tempo que posso oferecer, as conversas sensatas com ar de gente grande, as piadas toscas que o meu lado mais que bizarro solta de vez em quando, e até a loucura que vira e mexe me dá, que me faz comportar e falar igual uma criancinha boba. E é assim que eu me sinto quando desperdiçada, boba.

Acho que já nem me surpreende mais certas atitudes, porque já as espero prontinha, como quem se prepara pra sair. Maquiada, cabelo e unhas feitas, belo traje. Até porque sou mulher, e como toda boa mulher, devo estar preparada pra tudo, até pro inesperado. Mas o inesperado quase nunca acontece, quase nunca me aproveitam como se deve aproveitar alguém. No geral, eles sempre estão bem diante de nós com suas boas intenções disfarçadas, mas é aí que penso "deixa Jenny, deixa... isso com o tempo passa, e você vai encontrar a pessoa ideal", e quem disse que eu quero que a droga do tempo passe, eu quero viver o agora, deixar passar, é desperdício. E como disse antes, odeio desperdício. Ainda mais quando se trata de mim, porque quando sou desperdiçada, acabo perdendo a paciência, a tranqüilidade, o bom humor que eu tinha antes de saber que alguém está disposto a qualquer instante me desperdiçar.

Não gosto de me sentir como uma opção, um segundo plano, mesmo não sendo a intenção, mas me sinto, fazer o que? E é então que me vejo como não gosto, triste, chateada, querendo socar a cabeça de um na parede, nem que a cabeça seja a minha, porque assim, talvez eu a coloque no lugar e comece a agir e pensar de forma que faça tudo se resolver e eu voltar a me sentir eu novamente.

Ah, como eu sei que não é difícil me fazer feliz, são apenas meia dúzias de palavras agradáveis, somados com meia dúzia de gestos carinhosos, e pronto, já me dou por satisfeita, feliz e contente, me sentindo nas nuvens. Mas uma coisa que me tira do sério é, me fazer voar, pra logo após me fazer cair de cara no chão. É injusto, ingrato, insensível com qualquer ser vivo. Pior de tudo, é desperdiçar bem-estar. E pela terceira vez eu digo sem enjoar, odeio desperdício.