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. Esquadros .

Ele não é nem de longe a pessoa com quem eu namoraria. Ele não é o mais alto, o mais bonito, o mais forte.   Ele simplesmente não faz meu tipo. Eu não sei o que eu vejo nele, mas também não sei o que não vejo. Tem a capacidade de me fazer chorar de tanto rir. Tem um humor fora do sério, e é tão inteligente. Tem aquele raciocínio que me faz demorar horas pra entender. Ele cozinha, beija bem e é bom de cama. Aí eu fico pensando, algum defeito ele tem que ter. Sim, tem um gravíssimo: Ele tem namorada.

A primeira sensação que eu tenho quando isso acontece, não é remorso, como deveria ser, muito menos de culpa. É tal como a inveja, sendo que mais branda. Você não chega a odiá-la, mas ao mesmo tempo torce pra que não dê certo. No popular: "Dor de cotovelo". Eu sempre penso: "porque não Eu?" Eu to aqui o tempo todo, pro que der e vier, e pro contrário principalmente. Vivo tentando agir com superficialidade, mas ainda não me ensinaram a gostar de mentira. Não sei como funciona esse lance de amar de menos,  gostar aos pouquinhos, deixar rolar. Ainda não aprendi a me doar pela metade. E eu sou tão egoísta, quero tudo ao mesmo tempo, e tudo pra mim, não tem essa história de dividir o que é, ou era pra ser meu.

Eu não sou nem de longe a pessoa com quem ele namoraria, não faço muito o tipo dele. Pra ele, mais uma patricinha filha única da cidade grande, bem resolvida que não se apega. Quanta ingenuidade e generalismo. Sei bem o que ele viu em mim mas também sei o que ele ainda não viu. Ainda tenho tanto pra mostrar. É comigo que ele passa os dias úteis, e alguns finais de semana a cada quinze dias, mas é com ela que ele desfila de mãos dadas pelas ruas da pacata cidade de 12 mil habitantes. Fazem uns 5 anos que ele brinca dessa historinha de namorar à distância, sendo que ele nunca cansa. É o típico caso em que o amor vira comodismo. É bom pra ela, faz bem pra ele, ninguém nunca quer saber de nada, nem procura com medo do que vai achar. Ela lá, ele aqui e eu não sei onde me encaixo na história.

Eu não quero parecer feminista mas, é realmente disso que eu to gostando, da falta de palavras, do saciamento  sem compromisso, sem a obrigatoriedade do "Eu te amo". Até porque, "Eu te amo" qualquer bonequinho de pelúcia ta falando por aí. Eu até gostaria de acabar com esse pêndulo insuportável em que tudo que vai, nunca volta. Alguma coisa poderia realmente ficar, mas algo palpável, porque de lembranças e cicatrizes invisíveis eu já estou cheia. Mas só fica esse cheiro de cigarro de palha, que ele não para de fumar nunca, impregnado no meu cabelo e a dúvida se haverá uma próxima vez, se sim, até quando?