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. Resposta para um Sábado a noite em casa .

As pessoas dizem que eu preciso fazer alguma coisa. Sai dessa casa, desse quarto, vai ver a rua, vai ver gente, é o que elas dizem. Vai dar uma volta no shopping, fazer umas comprinhas. Olha pro mundo lá fora, todos saem se divertem e você aí. Perdi a conta de quantas vezes essas frases ecoaram nos meus ouvidos, e o fato de estar sozinha remetem a isso. Mas já dizia bom o velho ditado popular: Antes só que má acompanhada. E é assim que eu sou. Gosto de estar só comigo mesma. Eu me entendo como ninguém. Quando se acha metade do mundo idiota, se passa muito tempo sozinho. Pessoas em shopping me dão nojo, parecem ratos confinados, disputando lugar na fila da praça de alimentação, correndo atrás dos sapatos de liquidação e comprando roupas que nem sabem se vão usar. Vaidade e consumismo. Eu sinto falta de uma boa conversa sensata. Outro dia na praça, sentou um do meu lado e puxou assunto, e eu realmente acreditei que poderia valer a pena, eu realmente acreditei que aquele tinha potencial, mas não, igual a todos. Revolucionário virtual, anti-Copa sem saber porque, comprador de baseado e revoltado quando a mãe é assaltada na rua. Se eu tivesse olhado fundo nos olhos dele teria visto o vazio. Desperdício. De tempo, e de bem estar. Desperdício de sensatez. Eu tento ser normal, gostar de Poderosas, Lepo-Lepos e Beijinho no ombro. Mas eu me sinto mais a vontade com o bom e velho Chico, com a força e a voz extravagante de Elis, a ternura de Jobim e Vinícius. O que eu sei da vida? Talvez nada, talvez mais que deveria saber. O que eu sei que eu prefiro estar aqui, porque um dia no meu quarto vale muito mais do que mil em outros lugares.