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. Insistência .

Eu levei 21 anos pra saber que eu sou uma mulher incrível, sendo que ele ainda não percebeu isso. Eu tenho tantas coisas pra conquistar, mas insisto em uma que eu sei que não vai dar em nada, só pra ter o que tentar. Só pra não dizer que permaneci estática. Então acabo deixando algumas coisas passarem por saber que nem tudo tem uma razão lógica pra ser entendida, nem tudo que me mantém sã me faz feliz. Seria tão lindo morrer de amor e permanecer viva, porém, viver assim, a felicidade alheia é suicidar-me aos pouquinhos. Tudo era perfeito enquanto ainda acreditava em contos de fadas, ou simplesmente quando meus pés tocavam o chão. As coisas acontecem e são muito mais à flor da pele. A perda é bem mais significante do que os momentos de presença. Não me acostumo à rotina de ir e vir das pessoas, esse pêndulo insuportável, essa rotatividade. Alguém poderia realmente ficar. Mas só fica esse silêncio, essa sala vazia, esse mesmo quarto, a mesma cama bagunçada e o tapete ainda manchado de café. Eu fico nessa mesma casa, com o mesmo olhar vago de quem procura em vão um complemento. Será que precisarei de mais tempo pra saber que sou tão incrível que mereço bem mais do que você pode oferecer? Piadas sem graça, tapas, moridas e arranhões, noites mal dormidas, o cheiro da maconha tomando todo o quarto. Isso não é pra mim, não mais. Eu vou continuar aqui, sendo a mesma mulher incrível que eu sei que sou, que de longe você nem sonha em ver e de perto nem pode me alcançar. Meu humor vai variar como as suas atitudes sim, porém, minha alma vai sempre estar sorrindo mesmo que meus lábios a contradiga, mesmo que esse sorriso não chegue aos meus olhos. E eu vou continuar insistindo, só porque você me lembra o mistério da vida: Não entendemos nada mas continuamos insistindo.

- Jenny Guimarães - 

. Resíduos .

O que mais me dilacera é a dor física que a ausência trás. É a falta do abraço, das mãos dadas, da tentativa de me jogar na piscina. Essa sensação residual de que algo está sempre faltando. A minha rotina não é mais a mesma, o futuro deve ser todo planejado novamente, de maneira diferente. Essa falta de perspectiva, essa vida mal arranjada, fragmentada. Eu sem saber o que vou fazer com as lembranças que vivem arranhando as paredes, e você saindo pela porta que estava trancada. Eu recolhendo cada pedacinho de vida jogado pelas janelas pra não permanecer vazia, só pra ter o que guardar, só pra ter o que contar. Não que eu não tenha nada melhor pra fazer ou não me dê o valor, mas para me refazer é preciso primeiro se desfazer. De qualquer maneira, eu que achava que nunca mais te veria novamente, continuamos nos encontrando, na rua, no mercado, no bar favorito, quase todos os dias como uma amarga ironia. Irei cumprimentá-lo com um sorriso raso e um aperto de mão seguido de um abraço frouxo e você me dará um beijo na testa, como quem se lamenta da maneira que tudo aconteceu. E você vai reparar na minha impotência e em todo meu medo de já ter sido esquecida, então irá perceber toda a minha fragilidade e em quanto eu me desfaço e tento permanecer inteira. Mas você não vai ligar pra isso, vai achar mais um teatro onde eu sou a protagonista e você o que sempre sai primeiro de cena, desse cenário mal feito que a tanto tempo ameaçava cair. E passado alguns meses, conhecerei sua nova namorada, agirei como se fosse meramente um conhecido e com o passar do tempo pensaremos cada vez menos em nós, até nos esquecermos completamente. Quase. Incrível como aquele sorriso, pleno de significados se tornou tão importante quanto um comercial de pasta de dente. É essa capacidade de esquecer que me mantêm viva. E depois de um certo tempo, começo a procurar um novo amor até encontrá-lo, e juro que será definitivo até ele ir embora. 

- Jenny Guimarães -