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O que eles precisam saber

Eu to cansada que me olhem como se eu fosse um pedaço de carne comprada na promoção e que está prestes a ser devorada. Sabe, aquele olhar de fome, de quem só vê uma picanha suculenta que chega a dar água na boca. Aí, nesse momento, sendo observada com esse tipo de olhar, eu me sinto completamente nua, procurando um edredom pra me enrolar ou um burca pra me esconder. Aí  eu me incomodo com minha blusa que nem está tão decotada, com meu short que nem está tão curto, mas parecem enxergar meu útero! Aí eu começo a me sentir desconfortável, com vontade de ir embora dali. Não falo nada pra não ser grossa, ou pra não parecer convencida, afinal, "não é nada disso que estou pensando" e "levo tudo na maldade". Eles precisam saber que eu sou bem mais que um sutiã 44 e um quadril 90. Não dá pra acreditar que entre o meu caráter e a minha simpatia, eles prefiram a minha bunda. Eu posso fazer coisas muito mais interessantes que uma bela cruzada de pernas. Eles também podem fazer bem mais que apenas tentarem descobrir a cor da minha calcinha, mas preferem se limitar a esse terreno tão inútil da masculinidade. Eu odeio ser desperdiçada, e é assim que eu me sinto quando dispensam uma boa conversa com piadinhas maldosas a respeito do meu peito. Talvez eles precisem saber o que realente interessa. Não são curvas ou o que eu  tenho de mais ou de menos, mas não, preferem me tratar como se eu fosse descartável. Eu sei dançar, desenhar muito bem diga-se de passagem, canto, toco bateria, sei cozinhar, mas que diferença isso faz quando o único interesse é te comer?! Sinceramente, prefiro aceitar mil vezes que estou realmente só, do que me iludir com falsas intenções, aparências prematuras e adolescência mal ultrapassada.

. O que conto de algum canto .

E ao amanhecer à beira do Açu, no céu ainda havia luar. Do outro lado nascia o Sol iluminando a grama verde refletindo seus raios ainda coberta por orvalho. O movimento das águas com o vento, dava vontade de cair lago à dento. E nada mais fazia tanto sentido quanto aquele momento. As mãos se entrelaçavam e os braços se encontravam numa busca incessante, e tudo estava completo. A Lua despedindo-se de mais um dia enquanto o Sol nos dava bom dia, o calor do corpo quente pesando um sobre o outro sentindo o cheiro de gente de pele de carne. E os sorrisos, ah... Os sorrisos que sussurravam ao pé do ouvido. Então o dia realmente foi nascendo em dia quando a Lua não mais era vista. O Sol reinava puro e imponente, sendo, naquele momento o único espectador dos olhares inebriantes e ao mesmo tempo misteriosos que ambos trocavam. Não eram necessárias muitas palavras, as atitudes falavam por si só e revelava até os segredos. Quando o Sol subiu em glória e os olhos descansados se fecharam para o mundo ainda com as costas sobre a grama molhada, eles sabiam que a memória não lhes permitiria esquecer nem se quer por uns instantes aquela sensação. E o som do vento tocando as árvores mais altas, não posso deixar de citar, foi a trilha sonora da mais pura beleza de bem estar. Se bem me quer ou mal me quer, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que bem passou, bem se foi, bem vivi. Mal pude me conter, mal pude acreditar, mal pude resistir. E o que a mente da gente nos faz pensar, é que o tempo para pra que momentos como esses existam. Eu já desconfiava que a vida era o que acontecia enquanto perdíamos tempo planejando, mas naquele momento eu tava realmente vivendo pra que os planos pudessem existir.
 - Jenny Guimarães -  
"Todo dia o Sol levanta e a gente canta ao Sol de todo dia
Finda a tarde a terra cora e a gente chora porque finda a tarde
Quando a noite a lua mansa a gente dança venerando a noite "
(Caetano Veloso)