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. Amor e outras doçuras à parte .

Podia sim, ter um começo bonito com palavras graciosas e atitudes sensatas, mas qual sentido teria se não fosse por todos os palavrões e tapas trocados? E porque eu haveria de querer estar com alguém que me tratasse bem, se não fossem pelos arranhões, mordidas e tapas indesejáveis? Bastava meia duzia de palavras líquidas, deleitosas e obscenas, para que minha calma, desejasse sua cama. Mesmo sabendo que maior prêmio seria um orgasmo e um beijo na testa, ainda assim valeria a pena. Nós gostávamos assim, do imoral despudorado. E não nos importava o fato de não sermos o tipo de casal que causa inveja em novelas ou comerciais de tevê. Tudo valeria a pena.

Ele não abre a porta do carro pra mim, nem divide o guarda chuva comigo, eu sempre pago o táxi porque é ele quem paga a conta do motel. É, o "amor" é tão simples. É só deixar rolar. Do mesmo jeito que você pode gostar de ler sem ter que ler o tempo todo, você pode gostar de alguém sem a obrigação de demonstrar isso o tempo todo. E aí dá tempo de você ser você mesmo, sem precisar provar isso pra ninguém. E ainda que você morra de ciúmes daquela vadia que posta "saudades de você queridinho" no perfil dele, você ignora porque tem maturidade suficiente pra isso.

Não importa o quanto aquelas palavras grosseiras vão me entristecer, uma hora vai passar, eu permaneço ali como se não houvesse nada melhor pra fazer ou simplesmente porque não me dou o valor que eu mesma mereça. Mas entenda, não é tão simples encontrar por aí uma pessoa que compreenda, reconheça e mereça o meu verdadeiro valor. Enquanto isso, vou fingindo, manipulando a solidão, dançando conforme a música. Porque, convenhamos, ficar sozinha é muito bom. O tempo todo, é desperdício.